Testes alérgicos no diagnóstico da dermatite atópica

A dermatite atópica é uma doença complexa, onde há vários mecanismos imunológicos podem estar ativados causando alergia Antes de mais nada é preciso esclarecer que os testes alérgicos, ao contrário do que muitos acreditam não são indicados para estabelecer o diagnóstico de dermatite atópica. Isso porque, os testes alérgicos são baseados na detecção de anticorpos da classe IgE, que também podem estar aumentados em animais saudáveis, resultando em testes alérgicos positivos mesmo em cães que não possuem dermatite atópica. Além disso, existe uma classe de cães atópicos, cuja alergia é causada por outros mecanismos que  não estão associados com o aumento dos anticorpos IgE, resultando em teste alérgicos negativos.

A dermatite atópica é uma doença complexa e seu diagnóstico é baseado na presença de um histórico clínico característico da doença, na apresentação das lesões típicas da doença, no preenchimento dos critérios diagnósticos existentes,  e principalmente na exclusão de outras dermatopatias que causam coceira e dos outros quadros alérgicos como a hipersensibilidade à picada de inseto e, principalmente, a alergia alimentar (clique aqui para saber mais sobre a alergia alimentar), que deve ser excluída adequadamente antes do diagnóstico de dermatite atópica. (para mais informações sobre a dermatite atópica, clique aqui)

1. Quando o teste alérgico é recomendado?

Os testes alérgicos são recomendados somente para animais onde o diagnóstico de dermatite atópica já foi estabelecido conforme os critérios descritos acima, com duas finalidades:

A primeira finalidade é conhecer os alérgenos aos quais o animal desenvolveu alergia, a fim de orientar medidas ambientais para se evitar, ou no mínimo, diminuir a exposição à estas fontes de alergia.

A segunda finalidade é selecionar os alérgenos  que o animal apresenta hipersensibilidade para elaborar uma vacina específica contra a alergia do animal, chamada imunoterapia alergoespecífica. A imunoterapia é uma modalidade de tratamento em médio, longo prazo, que permite em muitos casos, amenizar os sintomas de alergia e em uma parcela de animais até promover a cura da alergia, por ser capaz de promover uma desensibilização aos alérgenos que o animal desenvolveu alergia.

2. Quais as diferenças entre o teste alérgico cutâneos e sorológico?

O teste alérgico cutâneo ( teste intradérmico e teste prick teste) baseia-se na aplicação direta na pele de susbtâncias indutoras  de alergia. Este teste permite avaliar se o animal apresenta moléculas do anticorpo IgE aderidas na superfície de mastócitos sensibilizados na pele.  O teste sorológico por sua vez,  detecta a presença de moléculas do anticorpo IgE diretamente no sangue.

Ambos os testes apresentam vantagens e desvantagens, que devem ser avaliadas  juntamente com o histórico do animal para a escolha de qual teste possa ser empregado, e são descritas no quadro abaixo:

Atualmente, os testes cutâneos são considerados como o teste ouro, (padrão), isso porque permite avaliar as reações que estão acontecendo diretamente na pele, que é órgão alvo da alergia. Por isso, estes testes são considerados  bastante específicos (valor preditivo positivo alto), entretanto, é um teste pouco sensível, isso significa que animais alérgicos podem apresentar teste cutâneos negativos. Ou seja, podemos confiar nos resultados positivos, mas os resultados negativos podem ser na verdade falsos negativos.

Em contrapartida, os testes sorológicos são conhecidos por serem bastantes sensíveis, porém são pouco específicos, isso significa que nem toda reação positiva é realmente relevante no quadro alérgico que o animal tem. Algumas das reações positivas no teste sorológico podem ser na verdade falso positivas. Entretanto, por ser um teste bastante sensível, podemos confiar que os resultados negativos são negativos de verdade.

3. Teste cutâneo ou sorológico? Por qual teste optar?

Diante destas características dos testes, o ideal é, quando possível associá-los, principalmente quando o objetivo for a elaboração de uma vacina alergo-específica.

Primeiramente, realizamos o teste cutâneo, se este se revelar positivo, é possível elaborar a imunoterapia alergoespecífica, quando este entretanto, apresentar-se negativo, podemos realizar o teste sorológico e avaliar os resultados positivos de acordo com a história clínica de exposição a possíveis alérgenos do animal, a fim de se identificar quais realmente podem ser relevantes.

4. Os testes alérgicos podem dar negativos?!?

Sim, é importante ainda ressaltar que uma pequena parcela de cães (5%) pode ser negativo tanto no teste sorológico quanto no testes cutâneos, o que pode ocorrer por dois motivos. Primeiro, o animal pode ter quadro de dermatite atópica onde os mecanismos da doença envolvem outros fatores além da produção de anticorpos da classe IgE (dermatite atópica intrínseca). Segundo, o animal pode ser alérgico a alérgenos não contemplados na bateria do teste, ou erros inerentes ao próprio teste. Por isso, é preciso ter em mente que um resultado negativo nos testes alérgicos não exclui a dermatite atópica, só demonstra que alguns das situações acima estão presentes. Neste caso, não é possível a elaboração de uma vacina alérgoespecífica, e o tratamento deve ser utilizados em com outros protocolos terapêuticos, como o uso de medicamentos imunomoduladores por exemplo.

5) O que os teste alérgicos podem indicar?

Os testes alérgicos podem auxiliar a identificar os fatores que normalmente estão associdados com  alergia em cães como: ácaros intradomiciliares, fungos do ambiente, pólens, alergia a picada de pulgas, gramas, hipersensibilidade a Malassezia sp.

6) Fiz o teste alérgico e agora?

Com o resultado do teste alérgico é possível adotar medidas de controle ambiental na tentativa de diminuir a exposição do animal aos alérgenos desencadeadores da alergia. Além disso, é possível iniciar o tratamento da alergia com vacinas, na tentativa de diminuir o uso de medicamentos ou ate mesmo suspender o uso destes em longo prazo. É importante ressaltar que independentemente do teste que se utilize para identificação dos alérgenos,  a eficácia do tratamento com as vacinas é de 50 a 60%, com os resultados aparecendo entre 9 a 12 meses do início do tratamento.