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Entendendo a Dermatite Atópica (Atopia)

05/02/2021Blog, Dermatologia Veterinária, Uncategorized

Coceira crônica em cães e gatos – entendendo a dermatite atópica

  1.     O que é dermatite atópica?

A dermatite atópica  ou atopia é uma doença alérgica, inflamatória da pele,  multifatorial, de ordem genética, que acarreta coceira crônica, constante, de intensidade variável decorrente de  alterações na barreira cutânea, e também de uma hiperreatividade (hipersensibilidade) do sistema imunológico frente a diversos alérgenos (agentes presentes no ambiente capazes de estimular o sistema imunológico, como ácaros da poeira doméstica, bolores e fungos do ambiente, pólens de gramas, flores, árvores).

2. Alterações da barreira cutânea x dermatite atópica

 A pele é maior órgão do organismo e tem como principais funções a proteção contra agentes externos, fatores físicos, e substâncias químicas, e também a função de manter a hidratação.

Em animais com dermatite  atópica a barreira cutânea encontra-se alterada. Nestes animais há menor produção de proteínas, lipídeos e ácidos graxos, responsáveis por manter as células da pele unidas. A deficiência destas substâncias faz com que os espaços entre as células da pele aumentem, facilitando a perda de água pela, ocasionando ressecamento e facilitando a penetração de agentes externos na pele.

 Além disso, a pele dos animais atópicos produz menos substâncias capazes de controlar a população de bactérias e leveduras na pele, o que faz com que estes animais tenham frequentemente episódios de infecção bacteriana (piodermite superficial) ou fúngica (malasseziose tegumentar).

pele saudavel

Pele de um animal saudável:
Células da pele unidas e pequena quantidade de bactérias e leveduras na superfície.

pele atopica

Pele de um animal com dermatite atópica:
Células da pele todas separadas, grande quantidade de bactérias e leveduras na superfície.

3. Hiperreatividade cutânea x dermatite atópica

 Cães com dermatite atópica, por apresentarem deficiência na barreira cutânea, se tornam mais susceptíveis a penetração de substâncias irritantes, alérgenos ( fatores que causam alergia) e microorganismos como fungos e bactérias na pele. A frequente e repetitiva exposição a estes agentes, faz com que as células do sistema imunológico presentes na pele do animal atópico, torne-se sensibilizada e hiper-reativa a eles, levando a liberação de diversas substâncias que causam coceira e inflamação a cada novo contato.

Os principais agentes externos que contribuem e perpetuam a hiper-reatividade cutânea compreendem: 

a. Aeroalérgenos: ácaros, bolores, pólens

b.  Microorganismos: bactérias e leveduras residentes da pele

c. Irritantes cutâneos: cobertores, roupinhas de lã, soft, tricô, flanela, carpetes, tapetes, produtos de limpeza, perfumes, material de contrução, resina urticante presente nas gramas e gramíneas

d. Alimentos: principalmente de origem alimentar (carne de frango, bovina, leite e derivados, ovo) e também de origem vegetal (soja, milho, trigo)

e. Picada de insetos: pulgas, carrapatos, mosquitos

4.     Quais  principais sintomas de dermatite atópica?

 O principal sintoma da dermatite atópica é a coceira, normalmente de forma constante, crônica, recidivante, de intensidade variável desde leve a intensa. O comportamento de coçar pode ser evidenciado pela coçar com as patas, roçar em moveis, paredes e tapetes, lambedura ou mordiscamento das patas. A coceira é o sintoma que mais incomoda os animais, podendo estar presente mesmo quando não há lesões na pele. Os animais podem ainda apresentar lesões de pele, como vermelhidão (eritema), espessamento da pele, aumento da pigmentação com escurecimento da  pele, pápulas (bolinhas vermelhas), escoriações, alterações na oleosidade da pele e crostas amareladas. É frequente a infecção secundária por bactérias e leveduras, levando respectivamente a quadros de piodermite e malasseziose tegumentar.

 5.     Quais os locais mais afetados na dermatite atópica?

     Os locais mais acometidos na dermatite atópica são: quadros de otites repetitivos,       patas principalmente as regiões interdigitais, região inguinal, região axilar, região cervical ventral, peitoral, região periocular e região perilabial e região de flexuras e dobras ( prega inguinal, flexura cranial do cotovelo).

 6.     Como o diagnóstico de dermatite atópico é estabelecido?

 O diagnóstico da dermatite atópica é estabelecido através do histórico do animal associado ao quadro clínico, sendo necessário descartar outras doenças que levam a coceira como doenças parasitárias: escabiose, infeções bacterianas e fúngicas, alergia à picada de insetos e alergia alimentar. Resumindo, pode-se dizer que o diagnóstico da dermatite atópica é clínico e por exclusão de outras doenças de pele que desencadeiam coceira (prurido).

 7.  A realização de testes alérgicos é necessária?

 O diagnóstico definitivo da atopia é clínico, ou seja, é baseado pelo histórico do animal e pelas características das lesões, e também pela  exclusão de outras doenças que levam coceira ( descritas no tópico acima). Somente nos animais em que a diagnóstico de atopia já foi estabelecido os testes alérgicos devem ser utilizados. A realização dos testes alérgicos visa identificar os fatores ambientais que contribuem para a alergia, como intuito de diminuir a exposição a eles e com o intuito de iniciar o tratamento através do emprego de “vacinas para alergia” ( imunoterapia alérgeno específica).

 8.     Como é feito o tratamento da dermatite atópica?

 A dermatite atópica é uma doença incurável, isto significa que não é possível curá-la, o tratamento visa diminuir os sintomas clínicos e permitir uma melhor qualidade de vida com o bom controle da doença. Para o tratamento, é necessária a adoção de várias medidas terapêuticas de forma conjunta para obter maiores chances de controle da doença, como:

 a. Diminuição da exposição à aerolérgenos ambientais como: poléns, gramíneas, bolores e fungos          do ambiente, ácaros da poeira doméstica

b. Eliminar infecções secundárias como aquelas causadas por fungo e bactérias

c. Evitar a exposição à pulgas e carrapatos

d. Diminuir coceira e inflamação e hiper-reatividade do sistema imunológico através do uso de medicamentose/ou imunoterapia alérgeno específica

e. Hidratação da pele e recuperação da barreira cutânea

O tratamento é individual para cada animal, o médico veterinário analisando cada caso estabelecerá uma terapia que deverá ser mantida por toda vida do animal a fim de se manter a doença sob controle, com o tratamento e medicação é possível oferecer animal controle da doença e assim melhorar sua qualidade de vida.

 

Texto de:

M.V. Dra Camila Domingues

Responsável pelo atendimento em Dermatologia Veterinária
na UniCare Vet Especialidades Veterinárias