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O uso de célula-tronco no tratamento da dermatite atópica canina

10/02/2021Uncategorized

dermatite atópica ou “alergia ambiental” é uma doença da pele de ordem genética, que causa coceira e inflamação na pele de forma crônica (constante), sendo considerada incurável. Cães que desenvolvem dermatite atópica, apresentam uma pele com uma barreira cutânea deficiente, que permite a entrada de alérgenos como: partículas de ácaros da poeira doméstica, polens,  bolores, fungos, descamação do epitélio de insetos e outros animais, bactérias e leveduras, que uma vez dentro da pele desencadeiam uma resposta inflamatória exagerada e intensa, culminado em inflamação, vermelhidão e coceira. (Para entender um pouco mais sobre a dermatite atópica leia o post: Entendendo a dermatite atópica ou alergia ambiental).

Nos últimos anos, como forma de se buscar terapias  que sejam eficazes, com menor potencial de efeitos colaterais em longo prazo e menos laboriosas,  iniciou-se a investigação do uso de células-tronco mesenquimais no tratamento de cães atópicas.

 As células-tronco mesenquimais utilizadas em medicina veterinária são obtidas a partir do tecido adiposo de animais sadios, este tecido é retirado de animais saudáveis submetidos a cirurgia de castração eletiva. As células- tronco não expressam moléculas de MHC II ( responsáveis pelo desencadeamento de rejeições), por isso despensa a necessidade de testes de compatibilidade, podendo ser utilizada de um cão para outro, sem causar rejeição. As  células tronco são células  indiferenciadas com capacidade de multiplicação e diferenciação celular e que apresentam grande capacidade anti-inflamatória e imunossupressora. Por estas características, as células -tronco podem ser usadas com sucesso no tratamento de doenças degenerativas, imunomediadas e inflamatórias.

 Embora ainda incipiente, existem estudos em humanos e em cães demonstrando que as células-tronco podem resultar em melhora clínica dos sintomas da dermatite atópica. Estudos têm demonstrado que as células- tronco podem melhorar os sintomas da dermatite atópica por reduzir a resposta inflamatória da pele por exercer as seguintes ações: diminuição a ação dos linfócitos B e da produção de imunoglobulinas IgE, diminuição da degranulação de mastócitos, diminuição da produção de citocinas pró-inflamatórias como: IL6, iNOS, INFC, PGE2, e aumento da produção de citocinas antiinflamatórias como IL10, TGF beta.

 Efeitos colaterais com a terapia de células-tronco são reportados como raros, entretanto, cães com dermatite atópica devem ser cuidadosamente acompanhados, uma vez que podem apresentar reações de hipersensibilidade mais graves e com mais frequência. As reações observadas em cães atópicos podem ser apatia, hipotensão e reação anafilática. As aplicações são sistêmicas, por via endovenosa e é importante saber se o paciente não tem outras complicações que acarretarão dispersão das células tronco para outros focos diminuindo sua eficácia. As células-tronco são contraindicadas para animais que tenham qualquer tipo de neoplasia.

 Atualmente é preconizado o uso de três a quatro aplicações, via endovenosa, com intervalo de 21 a 30 dias para observar melhora. Os animais que apresentam melhora podem permanecer períodos prolongados como três anos sem necessidade de novas aplicações ou outros tratamentos. Entretanto, a resposta ao tratamento com células-tronco é individual e pode variar a cada animal, podendo alguns animais não apresentar resposta satisfatória

 

Referências Bibliográficas:

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Texto de:

M.V. Dra Camila Domingues

Responsável pelo atendimento em Dermatologia Veterinária
na UniCare Vet Especialidades Veterinárias