Síndrome úveo dermatológica é uma doença rara, que tem como causas fatores hereditários e imunomediados (devido ao funcionamento anormal do sistema imunológico) não totalmente esclarecidos.
Os animais com esta síndrome produzem autoanticorpos contra os melanócitos, células presentes nos olhos e na pele, responsáveis pela produção de melanina, pigmento responsável pela coloração da pele e pêlos, presente também nos olhos, levando ao quadro de panuveíte granulomatosa (inflamação generalizada dos olhos), despgimentação da pele e dos pelos.
Ocorre com maior frequência em cães adultos jovens e de meia idade, especialmente em Akitas. As raças mais acometidas são: Akitas, Husky Siberiano, Samoieda, Chow Chow, Setter Irlândes, Teckel, Pastor de Shetland, São Bernardo, Old Englis Sheepdog e Fila brasileiro.
Os sinais clínicos oculares, podem ser de rápido surgimento com diminuição ou ausência dos reflexos pupilares à luz, blefaroespasmo (não para de piscar), fotofobia (aversão a luz), uveíte anterior, precipitados ceráticos, hifema (sangramento entre a córnea e íris), coriorretinite, conjuntivite, descolamento de retina, catarata, glaucoma, cegueira.
Os sinais oculares podem desenvolver antes, junto com os sinais da pele, ou após o surgimento destes. Os sinais dermatológicos incluem: despigmentação do focinho, lábios e pálpebras. Ocasionalmente, a bolsa escrotal, vulva, ânus, coxins, palato duro também podem sofrer despigmentação. Além da despigmentação, a pele pode tornar-se ulcerada, erodida, crostosas, e mais raramente, pode haver despigmentação generalizada não só da pele como também do pelame.
A síndrome úveo dermatológica deve ser diferenciada de outras doenças imunomediadas como lúpus eritematoso discoide e pênfigo, neoplasias como linfoma epiteliotrópico e doenças discrômicas como o vitiligo e doenças infecciosas como a leishmaniose.
O diagnóstico definitivo é estabelecido por meio do exame de biópsia (retirada de fragmentos cutâneos) seguido da análise histopatológica, que demonstra, incontinência pigmentar, dermatite de interface liquenoide com células inflamatórias como histiócitos, plasmócitos e linfócitos.
A síndrome úveo dermatológico não tem cura, e o tratamento deve perdurar por toda a vida do animal. Para o controle da doença, utiliza-se drogas que tem a capacidade de modular (regular) o sistema imunológico, diminuindo/aniquilando a resposta inflamatória contra a pele e os olhos, como: corticoides, azatioprina, ciclosporina, tetraciclina e niacinamida, ciclofosfamida. Todos os medicamentos empregadados no tratamento do animal estão sujeitos a efeitos colaterais importantes e por isso requerem acompanhamento pelo médico veterinário constante. Além das medicações sistêmicas de uso oral, também são utilizados colírios como auxiliares no tratamento.
Quanto mais cedo for estabelecido o diagnóstico e iniciado o tratamento, melhores são as chances de sucesso e menor a possibilidade sequelas nos olhos. O tratamento perdura o resto da vida, e embora em grande parte dos animais é possível estabelecer um bom controle, em outros animais, pode haver quadros de piora da doença mesmo com a manutenção do tratamento.
A chave do tratamento, é estabelecer dose dos medicamentos que mantenham a doença sob controle sem, entretanto, prejudicar a saúde do animal pelos efeitos colaterais inerentes a todas as drogas. Por ser uma doença crônica requer acompanhamento constante, porém é possível dar aos animais qualidade de vida e expectativa de vida.
Fonte: Dermatologia de Pequenos Animais – Keith A. Hnilica , 2011; Dra Camila Domingues de Oliveira
Responsável pelo serviço de dermatologia veterinária na UniCare Vet Campinas:
Dermatologista Veterinária CRMV-SP 19316